O pinheiro de Natal, Uma canção de Natal, Lenda da vela de Natal, A pequena vendedora de fósforos… quantas e quantas narrativas, poesias, canções foram escritas ou compostas ao longo de vinte e um séculos a respeito desse magno acontecimento. Mas, apesar de toda a arte e de todo o amor que as inspiraram, só há uma história realmente verdadeira, uma história absoluta, incomparável, a mais cheia de lições e de encantos, a que preenche todos os anseios da alma inocente, a que nos faz repousar, a que nos enche de esperança, a que nos conclama a lutar a favor do bem, a que nos faz amar tudo o que é sublime, enfim, a História das histórias.
Procurando trazer à retina as simples e delicadíssimas circunstâncias do Nascimento de nosso Salvador, algumas gotas das ocultas maravilhas ocorridas naquela Noite Santa começaram a brilhar na memória. Almas privilegiadas, como a da Beata Ana Catarina Emmerick[1], nos revelam detalhes desconhecidos sobre as providências tomadas pelo santo e virginal Esposo de Maria.
Conta-nos essa mística alemã que, quando estava se aproximando a hora bendita do Nascimento do Menino Jesus, Nossa Senhora avisou São José, o qual, com serenidade e desvelo, começou a preparar o chão da gruta, cobrindo-o com uma camada de ervas finas e com flores, colhidas no vale próximo. Estas terão sido semelhantes aos “lírios do campo” de que fala Nosso Senhor no Evangelho? Talvez.
Utilizando uma colcha tecida pela Rainha dos homens, estendeu-a sobre esse perfumado colchão. Pouco depois, pendurou nas traves da gruta várias lâmpadas que havia levado consigo para essa ocasião. Quando o divino Nascimento era iminente, aparece na porta da gruta um carneirinho que começa a balir fortemente, causando um incômodo ruído. O zeloso Pai jurídico do Menino Jesus sai para tentar afastá-lo dali a fim de não atrapalhar o altíssimo recolhimento de sua Esposa.
Na verdade, esse era um estratagema divino para apartá-lo da gruta, pois, tão magno mistério deveria ser presenciado apenas por Deus e por Maria Santíssima. Ao voltar, encontrou o Santo Varão o rincão em que a Santíssima Maria se achava tomado por uma intensa luz dourada. Esse local estava separado do resto da gruta por umas pobres esteiras. Percebendo que sua Esposa Se encontrava em altíssima contemplação, afastou-se para outro canto da longa cavidade e, de joelhos, pôs-se também a rezar. Pouco depois, dando-se conta de que a luz dourada tornara-se mais intensa, acercou-se para ver o que se havia passado e observou Nossa Senhora Se elevando do solo num êxtase maravilhoso. Ela lhe diz: “O Menino nasceu!”
Olhando para o chão, São José vê o Menino “belo como o relâmpago”, segundo O descreve a Beata. Nossa Senhora sai do êxtase e permanece, juntamente com São José, uma hora inteira adorando-O. Cena mais bela não poderia haver! Certamente, os espíritos angélicos, que há milênios ansiavam por esse augusto momento, regozijavam-se e, em sublimes atos de adoração, entoavam as mais celestiais melodias. Depois, a Santa Mãe, tomando o Recém-nascido em seus braços, coloca-O nos braços de seu nobre Esposo. Que glória e que alegria para o Santo Pai! Deitando o Bebê na manjedoura, permanecem por mais tempo ajoelhados. Foi a primeira Adoração noturna que se fez na História.
A intensa luz que se desprendia da gruta atraiu a atenção dos pastores de Belém, que logo foram esclarecidos pelos Anjos sobre o divino mistério. Para lá acorreram pressurosos, não sem antes discutir entre si, em meio ao indescritível maravilhamento em que se encontravam, o que podiam oferecer ao Menino.
Naqueles momentos, toda a natureza havia se revestido de alegria: as fontes jorraram com novas melodias; as flores abriram-se em plena noite e exalavam raros perfumes; em todas as partes da Terra, as estrelas luziram com mais vivo esplendor e a Lua espargiu soberbos raios. Os animais todos saltaram e brincaram, manifestando grande contentamento, enquanto os pássaros emitiam novas e belíssimas melodias, desenhando artísticos arabescos com seus movimentos.
Sobretudo ocorreram mudanças nas almas dos homens: os de boa vontade ficaram reanimados por uma felicidade intensa, enquanto os maus sentiram desconhecidos e profundos temores. Houve uma aurora rosada de grande esplendor e, sobre a gruta, uma névoa iluminada, misteriosa.
Nesse sublime ambiente, com o céu noturno engalanado por cordões de nuvens vermelho-escuras, e com melodias angélicas ressoando pelo firmamento, aproximaram-se os privilegiados pastores, carregados de singelos presentes para oferecer ao Rei dos reis. Dobrando seus joelhos por terra, esses enlevados personagens apresentaram à Sagrada Família os melhores frutos que puderam encontrar, peles bem lanudas de seus carneiros, mel, queijos etc., mas sobretudo entregaram seus simples e fervorosos corações, e não duvidaram em crer que ali estava o Esperado das nações.
Não é verdade que uma simples e breve narração desse grandioso acontecimento nos enche de bem-estar, de repouso de alma, de suave alegria? Sim, são as graças natalinas nas quais nossa alma repousa, deleitando-se na contemplação da Verdade, do Bem e do Belo.
Com esta breve meditação, a Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum – que neste Natal cumpriu 20 anos desde sua Fundação – quer unir-se aos leitores que acompanham este site, para juntos adorarmos o Menino deitado em palhas e glorificarmos a Sagrada Família, assim como rogarmos pela Santa Igreja e pela humanidade tão sofrida e desorientada destes dias.
Desejamos que do alto do Trono do Altíssimo desçam luminosos jorros de graça, que nos fortaleçam, nos encham de confiança e nos santifiquem a fim de que, definitivamente e com o coração cheio de gáudio, façamos parte da Divina Família e levemos atrás de nós todos os homens de boa vontade!
[1] BEATA ANA CATARINA EMMERICH. Visiones y revelaciones completas. Buenos Aires: Guadalupe, 1952, t.II, p.218-222. In https://revista.arautos.org/a-maravilhosa-fragrancia-do-natal/
